O Museu Afro Brasil é sem pestanejar o meu favorito entre os museus de São Paulo. Ainda me lembro a primeira vez que fui lá, fiquei fascinada por ser um museu tão diferente dos outros museus que costumo ir, e ao mesmo tempo ser provavelmente o museu que mais parece comigo.
Existem poucos museus dedicados a diáspora africana, e esse aqui é sem sombras de dúvidas um dos melhores. Ele fala de todos os aspectos afro-brasileiros, da escravidão ( incluindo ai trabalhos, e contribuição africanas em vários setores) até os dias atuais. Eu conheci esse museu alguns anos atrás, e desde então recomendo a visita para todo mundo!
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Maracatu atômico!
“A gente é super ignorante sobre cultura negra! A gente sabe muito pouco sobre uma parte tão importante nossa!” Foi esse meu sentimento enquanto via as peças de maracatu no Museu Afro. Sei muito pouco sobre maracatu, e apesar de saber que os instrumentos são predominantemente africanos, nunca tinha pensado no maracatu como uma tradição africana.
O maracatu é originado de uma cerimônia de coroação de reis e líderes africanos. Apesar de usar instrumentos como tambores e agogô, eu não fazia ideia que era na verdade uma das mais antigas tradições afro-brasileiras. O museu fala disso tudo e ainda mostra um pouco dos instrumentos e vestuários dessa celebração folclórica tão popular em Pernambuco.
Navio negreiro do Museu Afro
Uma das principais peças do Museu Afro é uma carcaça de um navio negreiro, numa parte onde se conta os horrores da escravidão. A peça é uma carcaça original, mas não se trata exatamente de um navio negreiro, mas de um navio de apoio ao navio negreiro, ele era um navio menor que por esse mesmo motivo chegava até a praia para capturar os negros.
É a parte mais dolorosa da visita, a gente vê correntes, grilhões, e outros instrumentos de tortura usados pelos escravos. Dói, é uma dor abafada e pesada ver a realidade bem ali na nossa cara. Tudo isso com um grande painel do poema Tragédia no Mar de Castro Alves, o chamado poeta dos escravos.
Instrumentos de trabalho na economia açucareira
Toda a riqueza do Brasil colonial foi feito às custas de muito suor e sangue dos escravizados. Eram eles que faziam todo o trabalho da fabricação de açúcar e seus derivados, desde a colheita da cana até a venda dos produtos. O Museu Afro mostra um pouco como funcionava a moenda, e tem várias peças que faziam parte do ritual de trabalho deles.
Eles tem uma representação do que seria uma casa grande, com alguns móveis, mas o forte mesmo é nos instrumentos de trabalho utilizados. Como os negros escravizados trabalharam no cultivo da cana de açúcar, houve todo um universo que tornava em torno disso, inclusive invenções e “tecnologias” criados especialmente para esse tipo de cultura.
Exposições temporárias
As exposições temporárias do Museu Afro Brasil sempre traz temas interessantes. Eu tinha visitado o museu alguns anos atrás, e como tem algumas peças diferentes, foi como se metade do museu fosse nova. Outra exposição que estava rolando na minha última visita foi sobre os negros no futebol, nomes como Rivelino, Pelé e Garrincha estavam por toda a parte.
Isso é coisa de preto!
Uma das exposições temporárias que mais curti foi a “Isso é coisa de preto!” contando o sucesso e primazia de negros em vários campos como ciências, esportes, artes, arquitetura e outros. Eles souberam reverter esse jargão racista ainda utilizado no Brasil, para mostrar que ser excelência em muitos campos é coisa nossa, coisa de preto mesmo!
Foi tão bom ver nomes como Luiz Gama, José do Patrocínio, Ruth de Souza, Juliano Moreira, Elza Soares e outros. Senti falta de algumas pessoas mais contemporâneas, talvez seria legal ter o Lázaro Ramos e a Taís Araújo por lá. Essa exposição foi feita para comemorar os 130 anos da abolição da escravatura e já foi prorrogada algumas vezes, se você estiver em São Paulo, vá conferir porquê esse museu é maravilhoso e a entrada é super em conta.
Religiosidade
Poder ver de perto e aprender um pouco mais sobre sincretismo religioso e sobre religiões de matriz africana num museu é um avanço. As religiões africanas foram proibidas, perseguidas e sempre demonizadas, e hoje a coisa não mudou muito. Quem não já ouviu que o Candomblé era coisa do diabo? Preconceito e intolerância religiosa que sempre fizeram parte do nosso país.
O embranquecimento de Yemanjá
Infelizmente ainda retratam muito a Yemanjá como uma mulher branca de cabelos lisos. Mesmo no Museu Afro Brasil eu vi poucas referências pra Yemanjá tal qual ela é : Uma mulher negra!
Você já parou para pensar que Yemanjá é uma orixá africana, e por isso mesmo não existe a menor possibilidade dela ser essa mulher branca que é retratada em todos os lados?
Embranquecer Yemanjá é um desrespeito às pessoas negras e principalmente as religiões de matriz africana que foram e são até hoje perseguidas e alvo de preconceito.
Eu sou uma mulher negra, sou de uma cidade que tem uma festa gigante de Yemanjá, e ainda assim levou algum tempo até eu me tocar que estavam embranquecendo a Yemanjá, numa tentativa de fazer ela se tornar mais bonita, mais aceitável mesmo.
Eu nunca tinha percebido isso, e hoje não consigo mais conceber Yemanjá, orixá da África de uma outra maneira que não seja uma mulher negra.
Carrinhos de cafézinho de Salvador
Quando ví esses carrinhos, sai correndo para ver porquê tinha certeza que eram de Salvador. Nunca mais vi eles pelas ruas de Salvador, mas quando eu era criança, nas ruas e terminais de ônibus tinham rapazes que vendiam cafézinho (um menorzinho como chamamos!) pelas ruas de Salvador usando esses caminhões enfeitados.
É um traço de cultura popular, rapazes negros na sua maioria que competiam para ver quem tinha o carrinho de café mais bonito do lugar, com mais enfeites e com o som mais alto (sim, alguns tinham caixas de som!) e que faz parte das lembranças de qualquer pessoa que morou em Salvador nas décadas de 80 e 90.
O Museu Afro Brasil fica dentro do Parque do Ibirapuera em São Paulo, num prédio que foi concebido por Oscar Niemayer. O museu tem três andares e fia num prédio de 11 mil metros quadrados quase todo ele acessível.
Nos diferentes andares ficam exposições permanentes e algumas temporárias. Eu fui mais de uma vez ao museu e como eles mudam a exposição, sempre tem coisas diferentes para ver.
Participação negra nas batalhas
Uma outra parte que gostei, foi a que falava da presença militar dos negros. Nem todo mundo sabe, mas eles foram vitais para algumas guerras e revoluções, e aqui nem falo das que foram lideradas por negros como a Revolta dos Malês, mas revoluções ao lado dos brancos mesmo.
Na época da escravidão, os negros eram obrigados a lutar, os que tinham donos menos piores lutavam com a promessa de uma possível alforria no caso de vitória. Claro que era uma minoria que conseguia a alforria de fato, os negros eram colocados na frente das batalhas, e eram sempre os primeiros a morrerem nas batalhas.
Informações práticas sobre o Museu Afro Brasil
Como chegar : A entrada mais próxima é o portão 10 do Ibirapuera.
Ingressos : R$ 6, meia entrada R$3 e gratuito aos sábados.
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O Museu Afro Brasil em São Paulo é maravilhoso, um dos meus preferidos na cidade. O ingresso é baratinho, todo mundo deveria visitar pelo menos uma vez na vida. História e resistência!
Nunca tinha ouvido falar desse museu… quero ir a São Paulo nos próximos meses e já foi incluí-lo no roteiro.
Que museu importante! Cada vez mais a história não contada de nossos ancestrais está sendo contada e isso causa frio no estômago dos favoráveis à casa grande. Obrigada por compartilhar!
Já fui tantas vezes para São Paulo e acredita que nunca fui nesse museu? Ma já anotei sua dica e certamente estará em meu próximo roteiro na cidade
Puxa, que legal e importante este museu, Paula, já coloquei na lista pra conhecer. Quanto a Yemanjá ser representada como branca, realmente é incongruente. Faz menos sentido do que um Jesus de olhos azuis e feições ocidentais, compreensível para que o Cristianismo fosse adotado na Europa.